Vencer o Torneio Itália pôs a Europa de joelhos

Por Odir Cunha, do Centro de Memória

A excursão de 1961 fez com que os europeus considerassem o Santos o melhor time do mundo um ano e meio antes de obter esse título oficialmente. O primeiro reconhecimento veio com a conquista do Torneio de Paris, ao golear o Benfica, campeão europeu. E todas as dúvidas se evaporaram com o título do Torneio Itália, obtido logo em seguida, em um sábado, 24 de junho, em Milão.

Recorde-se que quinta-feira, dia 15 de junho, o Santos havia goleado o Benfica por 6 a 3 na final do Torneio de Paris, e apenas três dias depois, no domingo, estava estreando no Torneio Itália, em Turim, diante da Juventus, a campeã italiana.

Naquele 18 de junho o Estádio Comunalle recebeu 60 mil torcedores, motivados para incentivar o grande time da cidade, que se tornaria bicampeão italiano em 1961/62, e ao mesmo para testemunhar o decantado futebol dos brasileiros. Na verdade, os torcedores queriam se Pelé era mesmo melhor do que Sivore, um astro da Juve que, só para variar, parte da imprensa comparava com o Rei.

Antes da viagem o Santos havia contratado Lima, do Juventus paulistano, o  mesmo que se tornaria o maior curinga do futebol brasileiro. Nesse dia, com Lima, o técnico Lula escalou o time com Laércio, Mauro e Décio Brito; Getúlio, Dalmo e Lima; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

Firme na defesa e sempre insinuante no ataque, o Alvinegro Praiano soube se impor e venceu por 2 a 0, gols de Pelé e Dorval. No jogo seguinte, marcado para três dias depois, no Estádio Olímpico de Roma, o adversário seria a Roma, amparada por nada menos do que 80 mil pessoas.

O goleiro Lalá, que entraria no segundo tempo no lugar de Laércio, machucado, lembra que o clima antes do jogo era pesado. A provocação dos adversários já começou no túnel, antes de entrarem em campo:

– Na Roma jogavam os uruguaios Schiafino e Ghiggia, os dois que marcaram contra o Brasil na final da Copa de 50. Enquanto as equipes estavam perfiladas uma ao lado da outra, o Ghiggia nos mostrava dois dedos em uma mão e um na outra, para que a gente se lembrasse dos 2 a 1 do Maracanã.

Porém, nem a imensa torcida, e muito menos a catimba do adversário abalaram os santistas. Aos quatro minutos, em jogada individual, Mengálvio fez 1 a 0; aos 21, Pelé recebeu passe de Pepe e ampliou; aos 26, Dorval driblou quatro jogadores e bateu da entrada da área para marcar o terceiro, e aos Pelé 33 driblou seu marcador e chutou na saída do goleiro Panetti, elevando para 4 a 0. Um terço da partida tinha sido jogado e o Santos já goleava.

No segundo tempo, Zito, que entrou no lugar de Mengálvio, marcou mais um, aos 17 minutos, em outra jogada pessoal. A habilidade dos brasileiros, a facilidade para driblar, quebrava a marcação italiana e escancarava a enorme diferença de categoria.

– No segundo tempo – completa Lalá – a gente ia até a área deles e voltava, sem perder a bola. O juiz (Césari Jonni, da Itália) terminou a partida cinco minutos antes do tempo. O Santos fez uma partida maravilhosa.

Bravo! Bravíssimo!