O campeonato e os seus descontrolados

Antes de mais nada, você que prefere mata-mata à pontos corridos é bem-vindo, mas o que vai ser tratado aqui é a importância do controle emocional e tático para que a consistência e o êxito seja alcançado na fórmula atual do brasileirão. O torcedor vem sentindo na pele as consequências que a falta de maturidade do seu time trouxe rodada à rodada, quando os resultados não apareciam, mas o nervosismo sim. Quem está aí para provar isso são Vasco e Atlético Mineiro, ambos posicionados nas extremidades da tabela e que hoje são referência positiva e negativa neste quesito.

Se analisarmos  o Vasco, que teve um primeiro turno absurdamente ruim por n motivos, entre eles o elenco limitado e também as escolhas da diretoria e dos técnicos que por lá passaram, o fator emocional também influenciou e o reflexo disso está no número de cartões recebidos à cada rodada e claro, na falta de triunfos. Bastou o desespero bater na porta para que reforços chegassem e entre eles Jorginho, que no momento comanda a fuga vascaína do rebaixamento e fez isso também com uma pitada de controle psicológico. Este deu finalmente um padrão tático ao time, melhorando nitidamente a marcação e o posicionamento dos seus defensores e plantou a semente da esperança naqueles que já estavam desacreditados. E agora? O gigante da colina, que era o saco de pancadas do primeiro turno, está a dois pontos de sair do Z4.

 

Já na parte de cima da tabela, o Atlético Mineiro deu uma aula de descontrole emocional e tático. Se Jorginho chegou ao Vasco para colocar ordem em campo e na autoestima do elenco, Levir Culpi muitas vezes somente ajudou a piorar a falta de maturidade que seu time apresentava, quando em cada erro de arbitragem ou gol sofrido de forma precoce, se jogava no mar da emoção e se afogava no da razão. Se analisarmos também o comportamento do jogadores em campo, o verticalismo exacerbado deixou buracos defensivos que prejudicou a equipe durante todo o campeonato e  se isso não acontecia, era porque a qualidade da dupla Leonardo Silva e Jemerson ou dos milagres de São Victor aparecia.

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Quer mais exemplos? No momento crucial do campeonato, quando o Atlético ensaiava a arrancada para ultrapassar o Corinthians na tabela, perdeu de forma acachapante para Santos e Sport, não soube administrar o resultado e ser efetivo contra o Joinville e pra completar, se pilhou demais antes do confronto direto contra o time de Tite e não soube fazer disso uma arma dentro de campo. O atacante Luan talvez possa ser o melhor espelho, já que é extremamente dedicado durante as partidas, tem o chamado sangue nos olhos à cada confronto e neste sentido também se deixou levar demais pela emoção. A frieza, o controle que faltou ao galo em quase toda a competição existiu no gol do Dátolo contra o Figueirense, quando mesmo no apagar das luzes, teve a frieza pra dominar bem a bola e forte pro gol. Talvez seja tarde demais.

Por fim, curiosamente Vasco e Atlético Mineiro também se cruzaram no campeonato em termos de uma só palavra: acreditar. Se o famoso grito ‘eu acredito’ que ecoa nos estádios por onde o time mineiro passa talvez não tenha mais tanta força nestas últimas rodadas, o ‘eu escolhi acreditar’ do gigante da colina ainda tem, e com razão. E pra encher o seu saco só mais um pouquinho falando de emoção, é isso que o vascaíno vai sentir até o final e que o time vai precisar conter pra se manter na Série A.