Uma paixão de 103 anos

Surreal. Esse é o adjetivo que podemos atribuir a toda paixão vinda de um dos clubes mais tradicionais do nordeste brasileiro, ou por que não do Brasil? Santa Cruz futebol clube, fundado no dia 03 de fevereiro 1914, por jovens do bairro da Boa Vista do Recife, em que viviam em um cenário futebolista dominado pela elite branca, que não dava espaço ao resto da população.

Contudo, isso não foi motivo para que os 11 meninos seguissem seus sonhos e todos os dias se concentravam em frente à Igreja Santa Cruz. Os mesmos, compartilhavam uma paixão una: O futebol. Hoje, toda essa paixão se refaz entre gerações e gerações de pernambucanos torcedores do mais querido do Brasil, que carregam consigo um sentimento jamais sentido por outrem ou imaginável; um sentimento sem classe, sem cor, sem divisão, mas com muita luta, amor e perseverança, e que com certeza, tudo isso foi brotado naqueles que fundaram a maior paixão de Pernambuco há mais de um século atrás.
São 103 ano de muitas conquistas e numerosos acontecimentos que levaram o clube a ser o que é hoje. Desde a criação do distintivo até os grandes títulos, forma muitos acontecimentos que fazem o Santa Cruz ser carregado de esperança e vitalidade, mesmo nos momentos difíceis que já foram passados.

CONSTRUÇÃO DO COLOSSO DO ARRUDA 

Essa é uma história que precisa ser lembrada para o mais jovens. Eles precisam ter noção ainda maior da capacidade de mobilização dos tricolores. É a prova cabal e gigante do amor de uma nação por um time de futebol centenário. É a história do Arruda. Símbolo maior da união entre o clube e seus seguidores. O ano era 1965. A torcida decidiu aceitar a convocação. Era preciso doações para tirar o sonho do papel. Construir um colosso. De imediato, o espaço em que hoje está o parque aquático ficou cheio. De tijolos, cimento, areia, ferro. E amor. Estava fincada a base da nova casa coral.

Lembram os tricolores da velha guarda que o local onde hoje está o parque aquático ficou tomado de materiais de construção em 15 dias. Diziam ter o suficiente para dar cara a primeira versão do estádio. E foi assim. O clube precisava de doações para ter a sua casa. O coração tricolor começou a pulsar. O anel inferior do estádio ganhou corpo. Mas foi só em 1972 que o setor ficou completo. Na ocasião, houve a disputa da Minicopa do Mundo, em comemoração aos 150 anos da Independência do Brasil.

Essa obra só ficou pronta, contudo, quando o Tricolor conseguiu as provas bancárias de que conseguiria pagá-la. Foi quando o clube colocou cinco mil e seiscentas cadeiras cativas como garantia. Em um primeiro momento, as vendas foram mornas. Até que o governo do estado criou uma empresa para administrar as cadeiras. Tudo começou a fluir e, na sequência, o Santa Cruz conseguiu quitar seus débitos.

Arruda é inaugurado oficialmente em 1972 (Arquivo/DP/D.A Press)
Arruda é inaugurado oficialmente em 1972

Até o rei Pelé se mostrou à favor da ampliação do Arruda. Aliás, ele foi a testemunha da assinatura de contrato que liberou a verba para a obra. “Há muito o Recife merecia um grande estádio, mas esta ocasião é bastante oportuna, uma vez que deste estádio estava dependendo a realização aqui dos Jogos da Minicopa”, disse o atleta do século.

O Mundão do Arruda, contudo, só veio a ficar completo dez anos depois. Em 1982, após o ex-presidente Rodolfo Aguiar apresentar a proposta de construção o anel superior ao então governador Marco Maciel, o estádio ficou com a forma atual. Foi inaugurado com a disputa de um quadrangular com Central, Sport e Náutico. O Tricolor foi eliminado de cara pela Patativa na disputa dos pênaltis, em um jogo com lotação máxima. Mas, nesse caso, a primeira impressão ficou longe de ser o retrato da relação do time com o estádio.
 (Diario de Pernambuco)

 Símbolo

O escudo do Santa Cruz Futebol Clube foi criado no ano de 1915, logo após a fundação da instituição. O autor do desenho foi um dos atletas que vestiam a camisa do Mais Querido na época, o atacante Teófilo Carvalho, mais conhecido como Lacraia.

De lá para cá o escudo foi se modernizando até chegar nos moldes atuais. O detalhe é que desde a década de 1970 o distintivo teve suas cores invertidas, seguindo o estatuto do clube, que determina que as cores do Mais Querido devem ser representadas, necessariamente, na ordem preto, branco e vermelho.

 

1915 NASCE AS TRÊS CORES 

Em 16 de junho de 1915, é fundada a Liga Sportiva Pernambucana (LSP), hoje Federação Pernambucana de Futebol. A entidade passou então a organizar os campeonatos estaduais. O primeiro ocorreu já em 1915, porém, antes do pontapé inicial, um acaso do destino mudaria para todo o sempre a história do “time dos meninos”.

Uma das regras da LSP afirmava que seus afiliados não poderiam usar as mesmas cores, porém, tanto Santa Cruz como o Flamengo eram alvinegros, sendo assim, um dos dois teria que alterar seu pavilhão.

A decisão saiu em um sorteio, o Flamengo venceu e como prêmio, permaneceu alvinegro, já o Santa teria que mudar suas cores.Assim, optou-se pela inclusão do vermelho junto ao branco e preto, nascendo assim o Tricolor.

Dois fatores teriam influenciado na inclusão do vermelho, o primeiro teria sido a boa impressão que o time do Flamengo/RJ causou ao fazer uma excursão ao Recife na época. O rubro-negro carioca usava então um uniforme com listras horizontais vermelhas, brancas e pretas, o popular Cobra-Coral, que foi adotado pelo Santa Cruz.

Outro fator teria sido a simpatia que alguns dos membros da diretoria nutriam pela Alemanha, na Primeira Guerra Mundial, que naquele momento se desenrolava na Europa. Na época, a bandeira alemã era composta por três faixas horizontais, preta, branca e vermelha. As novas cores do clube foram oficializadas no dia 16 de março de 1916.

Solucionado o problema das cores, veio a disputa da primeira partida do Campeonato Pernambucano e coube ao Santa a honra de inaugurar a festa oficial nos gramados do Estado. No dia 1º de agosto de 1915, o Tricolor venceu a equipe da Coligação Sportiva Recifense por 1×0, com gol de Mário Rodrigues, e grande atuação do goleiro Ilo Just, um dos primeiros ídolos corais, ao lado de Pitota.

Atacante Pitota, craque do Mais Querido

Seis times participaram daquele campeonato e como Santa, Flamengo e Torre chegaram ao final da disputa empatados, o título foi decidido entre os três. Contra o Torre, o Tricolor foi impiedoso, fazendo 5×0, bastava vencer o Flamengo para conquistar o primeiro título, porém, o time acabou derrotado e como o Flamengo também venceu o Torre, ficou com o título.

Ao fim de sua primeira competição oficial, o clube fundado por garotos e que quase deixou de existir em virtude da possibilidade da compra de uma máquina de fazer caldo de cana, conquistara o vice-campeonato, nada mal, porém a principal conquista já era bem clara naquela época e mantém-se até hoje idêntica: o Santa Cruz era o Mais Querido, seus jogos sempre reuniam um bom número de adeptos. Num tempo em que o futebol pernambucano ainda engatinhava, o Tricolor já era o Time do Povo.