Un día como hoy: o Uruguai erguia a primeira Copa do Mundo da história
A primeira Copa do Mundo de futebol foi sul-americana. De sua sede até sua final. Há 90 anos, a Seleção Uruguaia erguia no Estádio Centenário a Deusa da Vitória, a taça que depois viria a se chamar Jules Rimet. Diante da Argentina, para cerca de 70 mil torcedores, a Celeste Olímpica escreveu a história. Era seu terceiro título mundial, reconhecido pela FIFA, e diante de seu povo.
Un día como hoy rememora grandes feitos, títulos, histórias, gols, aniversários e muito mais do futebol sul-americano. O de hoje é o mais especial até o momento. O que aconteceu no dia 30 de julho de 1930 não pertence somente a Uruguai e Argentina, mas sim a todo o futebol. Um esporte que carecia de profissionalismo à época, o talento da América do Sul venceu.
A primeira Copa do Mundo
A FIFA, criada em 1904, desejava fazer seu próprio campeonato de caráter mundial, mas não tinha recursos para organizar uma competição. Nos primeiros anos da instituição, a parceria para difundir o futebol foi com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Em 1906, o COI aceitou a inclusão do esporte nos Jogos Olímpicos. Entre 1908 e 1920, as conquistas das nações no futebol não são reconhecidas com status de mundial porque não era a FIFA quem organizava.
A partir de 1920, a FIFA organizou o futebol nas Olímpiadas. Em 1924 e em 1928, o Uruguai venceu as medalhas de ouro e elas foram reconhecidas como títulos mundiais. Assim, a Celeste Olímpica é tetracampeã mundial segundo a FIFA. A ruptura entre a entidade máxima do futebol e o COI ocorreu em maio de 1928. O futebol não estava na lista de esportes dos Jogos seguintes, de 1932. Então, em Congresso, com 25 votos a favor e 5 contra, ficava decidido que haveria uma competição independente com membros da FIFA.
A sede do mundial não tinha definição. Alguns países europeus como a Itália, Espanha e Holanda se candidataram. Pela América do Sul, somente o Uruguai pleiteou. Por conta da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), do centenário da independência uruguaia, da importância do Uruguai para o futebol e por questões estruturais, a FIFA escolheu a sede no continente americano por unanimidade. Faltava agora as seleções para jogar.
Pela crise econômica na Europa e pela sede não ser no continente, os europeus organizaram um boicote à Copa do Mundo. Em contrapartida, os americanos abraçaram a causa e foram nove seleções ao todo: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Estados Unidos, México, Paraguai, Peru e o Uruguai. Nenhuma outa Copa teve tanta seleção americana.
As respostas europeias custaram a chegar e somente cerca de um mês antes da Copa, Bélgica, França, Romênia e Iugoslávia confirmaram a presença. Foram 13 seleções e o sorteio dos grupos foi realizado dias antes do começo da competição, para não ter o perigo de alguma seleção desistir.
Quatro grupos foram sorteados e os dois primeiros avançavam à semifinal. O grupo 1 tinha Argentina, Chile, França e México. O grupo 2 tinha Bolívia, Brasil e Iugoslávia. O grupo 3 era o dos donos da casa: Uruguai, Romênia e Peru. O grupo 4 tinha Estados Unidos, Paraguai e Bélgica. Os três estádios sedes ficavam em Montevidéu: o Centenário, Grand Parque Central e o Estádio Pocitos.

As duas primeiras partidas do mundial foram às 15 horas (horário local) do dia 13 de julho. França e México em Pocitos e Estados Unidos e Bélgica no Parque Central. O primeiro gol da história das Copas foi marcado pelo francês Lucien Laurent na vitória por 4 a 1 sobre os mexicanos. No outro jogo, 3 a 0 para os EUA.
Os grupos tiveram os classificados definidos entre os dias 20 e 22 de julho. No grupo 1, a Argentina passou com três vitórias. No grupo 2, Iugoslávia venceu seus jogos também. No grupo 3, o Uruguai venceu duas vezes e não tomou gols. No grupo 4, os EUA passaram sem dificuldades.
A fase seguinte era a semifinal. O primeiro jogo era entre Argentina e EUA e o segundo jogo entre Uruguai e a Iugoslávia. O Centenário foi sede dos três jogos restantes. Foram dois 6 a 1 na semifinal. No dia 26 de julho, Argentina goleou e no dia seguinte, deu Uruguai. As duas melhores seleções estavam na final.
A final foi há 90 anos, às 14:15 pelo horário local, o Uruguai entrou em campo no tradicional 2-3-5 da época. Enrique Ballestero; José Nasazzi e Ernesto Mascheroni; José Andrade, Álvaro Gestido e Lorenzo Fernández; Pablo Dorado, Héctor Scarloni, Héctor Castro, Pedro Cea e Santos Iriarte foi o time do treinador Alberto Suppici. A Argentina, na mesma formação, dos treinadores Francisco Olazar e Juan José Tramutola veio a campo com Juan Botasso; José Della Torre e Fernando Paternoster; Arico Suárez, Luis Monti e Juan Evaristo; Carlos Peucelle, Francisco Varallo, Guilherme Stábile, Manuel Ferreira e Mario Evaristo.

A tensão diante da partida era enorme ainda mais pela rivalidade das duas seleções que, naquele momento, eram as melhores do mundo. Além disso, tinha a rivalidade platina entre os países. Aos 12 minutos, Pablo Dourado abriu o placar e a Argentina virou com Carlos Peucelle e Guillermo Stábile. O primeiro tempo terminava com vitória portenha.
Em meio às polêmicas sobre a partida, o Uruguai virou no segundo tempo com gols de Pedro Cea, Santos Iriarte e Héctor Castro para fechar a conta. Final de jogo, 4 a 2. Era a primeira conquista uruguaia em Copas do Mundo, a única sediada em sua casa até hoje.
Após o jogo, o argentino Varallo deu a seguinte declaração: “os torcedores uruguaios fizeram guerra desde que chegamos porque sabiam que o título estaria entre eles e nós. Pela noite, não nos deixaram dormir e nos insultaram nos treinos.” Outro jogador argentino, Luis Monti também relatou ameaças fora de campo. Ele e a família foram ameaçados de morte caso a Argentina fosse campeã. No intervalo da final, Paternoster disse que “melhor perdermos, se não todos morremos.”
Se alguém morreria caso o resultado fosse diferente, não sabemos, em campo, deu Uruguai, primeiro campeão de Copa.

Amante de uma boa retranca uruguaia enquanto escuto uma MPB tomando uma cerveja argentina. Torcedor do Cruzeiro. Hincha de Independiente.