Do dever de acreditar; um sermão Vilanovense
É amplamente difundido e abstraído a compreensão acerca da imprevisibilidade que permeia o futebol. Tudo é possível. Times fracos vencem elencos fortes, times pequenos vencem torneios grandes, enfim, Davi frequentemente vence Golias. Obviamente, essa potência se materializa dentro das limitações de cada time: sim, o Ituano venceu o paulistão de 2014 em cima dos 4 gigantes do estado, mas ainda seria imperioso, naquela época, mesmo mediante tamanha conquista, sonhar com uma Libertadores, por exemplo. É fato: todo time tem suas limitações, mas é impossível vence-las sem antes sonhar em , sem um projeto sem uma utopia.
A mudança enseja sim o distanciamento das ilusões (quimeras que, por definição, nunca irão se realizar) mas também é escrava dos sonhos autênticos, fieis às condições do sonhador. O sonho é uma causa, uma ideologia pela qual se luta. Como toda luta, ela é difícil. Para o Vila Nova então, é uma guerra. Implica saltos e tropeços, marchas e recuos. Daí é possível entender um time que em 2008 não subiu para a série A por causa de um jogo e em 2009 disputou os farelos do campeonato. Felizmente, daí é possível compreender também um time que em 2014 foi rebaixado no estadual e no brasileiro para no ano seguinte, contra tudo e contra todos, alcançar a redenção e, desde então, se mostrar cada vez mais forte, competitivo.
Mudar, progredir, é uma guerra. Mas não é impossível. Qual a probabilidade de o time da igreja de uma invasão de terra se tornar um clube de projeção nacional? Tende a zero, mas aconteceu. Sonhos são difíceis, sua possibilidade de concretização tende a zero, mas são, sim possíveis. É isso que nos faz acreditar sempre. Eis o motor da nossa esperança.
Para quem já conquistou um campeonato goiano e um brasileiro revertendo uma (des)vantagem de 3 gols (sendo uma sobre o rival), a esperança é imperativa, obrigatória, apresentada junta ao ingresso na porta do estádio. Haverá algo no mundo mais patético que um torcedor passivo perante as mazelas do destinos? Não. Nem mais inútil.
O que aconteceu no dia 15/03/2018 foi uma tragédia. Ali percebemos que não temos o maior elenco do Brasil, a melhor estrutura, muito menos a maior caixa. Mas temos o amor e a esperança unidos em um sonho: o Vila Nova se tornar um dia tão gigante quanto o Vila Nova que temos em nossos corações, um amor diametralmente oposto à sua possibilidade de sucesso, tendendo ao infinito (aqui se explica a existência da instituição por meio de aritmética básica).
Há fatalistas defendendo a tese segundo a qual: o time já venceu além do permitido por suas limitações e disputa o rebaixamento na série B de 2018. São eles o interlocutor deste texto. Essa postura nada irá mudar. O progresso é precedido pelo sonho. Se junte à marcha do povo goiano pelo mais querido time. A marcha dos empregados e desempregados, a marcha dos privilegiados e injustiçados, a marcha da burguesia e dos sem-teto, a marcha dos fortunados e renegados. A marcha de todos. A marcha do povo. A incessante marcha movida por um sonho e por uma religião chamada Vila Nova Futebol Clube. “A marcha esperançosa dos que sabem que mudar é possível”.