Não há nenhum mistério: todo goiano sabe que o Vila Nova Futebol Clube é uma torcida que tem um time. A realidade é inversa com a maioria dos times. Estes são fundados, atraem simpatia e, por fim, os simpatizantes se unem a partir de um sentimento coletivo de pertencimento e só então formam uma torcida. Já o Vila Nova, nasceu em uma torcida. É uma subversão da lógica, eu sei, como afirmar que um filho nasceu antes de sua mãe. Sim, é impossível um ser nascer antes do ventre que o criou, mas não leia esse texto sem uma coisa em mente: o Vila não se explica, se ama.
Para quem não tem o privilégio de amar, tentarei explicar. O bairro da Vila Nova, em Goiânia era uma invasão de terra perto do córrego botafogo. A mão-de-obra empregada na construção de Goiânia é oriunda a outros estados: Ceará, Minas, Bahia, Piauí, Pernambuco, Maranhão, Alagoas… essa gente não tinha condições para comprar um lote em Campinas, então se uniram naquele pedaço de chão. Quando o Padre José Balestiere fundou ali uma Igreja, a semente que resultaria no VNFC foi plantada. A Igreja começou a organizar torneios de várzea locais e criou um time, o Vila Nova, que já contava com um amplo grupo de torcedores: gente humilde que nas horas vagas participava dos eventos promovidos pela Igreja, dentre eles, o futebol. “Olha, leitor, aquele ali é o fulano. Ele vem buscar a vitória que, lá fora, a vida lhe negou a vida inteira”
Para ajudar a explicar, decidi pesquisar no repositório online da UFG, materiais catedráticos que explicassem o que é nossa torcida. Encontrei poucas matérias sobre futebol, duas das quais discorreram sobre o Tigre da Vila. Deixo aqui, na íntegra, os trechos selecionados (com os respectivos autores).
Dissertação de George Bruno Machado Leão- “Futebol em Goiânia: Sociabilidade e Espaços”
“A rivalidade entre Goiás e Vila é muito forte, e também muito violenta, são constantes os casos de violência no estádio a cada clássico. Tal qual às generalizações dos torcedores de cada lado, os esmeraldinos são os playboys “filhos de papai” e torcedores “modinha”; os torcedores do Vila normalmente são classificadas como de baixa estratificação social e até mesmo são chamados de bandido, ladrão, malandro independente da condição real e individual de cada um.”
“O Goiás Esporte Clube surgiu de pessoas, que assim como o Goiânia, possuíam um elevado status socioeconômico, mas com a característica de torcedores mais jovens. Atualmente o Goiás mantém essa característica de clube “elitizado”; em 1960 os dirigentes do clube compraram uma área de uma fazenda que viria a ser o centro de treinamento e estádio Hailé Pinheiro. E o seu maior rival, o Vila Nova Futebol Clube foi fundado no bairro homônimo ao clube. Foi por muito tempo o clube das massas operárias que moravam no próprio bairro Vila Nova e sempre manteve esse perfil de clube das massas.”
“[…]o estigma estava lá antes mesmo de o clube existir, afinal o clube acaba tomando para si a imagem do bairro no qual ele se posta e até mesmo a ideia que o clube propõe; se o Vila Nova foi o primeiro clube a abrir as portas do futebol profissional às pessoas da massa, então ele carregou desde então o estigma social colocado nestas pessoas que queriam se inserir num contexto que até então era elitizado”
Tese doutorado Dr. Luís Cézar de Souza- “ SOCIEDADE, FUTEBOL, TORCIDAS ORGANIZADAS E EDUCAÇÃO: da violência explícita às contradições não evidentes”
“Em Goiás também se observam distintivos de classe e os resquícios de preconceito na origem de dois dos principais times do estado: o Goiás Esporte Clube (GEC) e o Vila Nova Futebol Clube (VNFC). De acordo com Nascimento et. al. (2007), a origem desses dois clubes guarda relação com a distribuição geoeconômica da cidade de Goiânia a partir da década de 1950: à margem esquerda do principal córrego que corta a cidade se encontrava a região mais desenvolvida e habitada por pessoas com maior poder econômico – os que se identificavam com o GEC; à margem direita estavam os operários e demais pessoas que buscavam na capital em desenvolvimento melhores condições de vida – os que se identificavam com o VNFC.”
Nossa torcida, como está bem claro tem raízes humildes ainda vivas, mas não se limita à essa estratificação. O Vila é um time do povo, ele todo, então obviamente há considerável parte da torcida que possui condições socioeconômicas mais privilegiadas, tanto é que esses torcedores costumam investir no time e ingressar nos cargos administrativos.
Também está bem claro no texto certo preconceito da nossa torcida pela sociedade. Diante tanto mal-sentimento, resta aos torcedores apenas amar incondicionalmente aquilo que ninguém entende e tratar como irmão aquele que entende. O Vila se torna uma religião, cresce nas crises e pouco importa o que dizem aqueles desumanos demais para entenderem esse sentimento, pois torcer não é um ato pragmático, mas, sim, de fé. Parafraseando Nelson Rodrigues, eu vos digo que o melhor time é o Vila Nova; podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos.
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