Quem consegue explicar o Vila Nova?
Junto ao apito final, um coro de vozes cansadas se levantam contra si mesmas, buscando palavras que expressem sua revolta. Mais difícil que exortar o descontentamento, é explicar sua circunstância. Quem consegue explicar o Vila Nova?
Todos buscam essa explicação e alguns estão certos de que a acharam. Para alguns, a culpa é do centro-avante. Para outros, a culpa é do treinador. Há quem culpe o presidente, há quem culpe até o torcedor. O outro time nunca tem méritos nessas análises, óbvio, e elas são sempre o mais simples e fatalistas possíveis.
Em 1950, quando o Brasil perdeu o mundial para o Uruguai, o goleiro Barbosa carregou a cruz do fracasso sozinho por toda a vida. Ninguém culpou o zagueiro que falhou na marcação de Schiaffino, ninguém enalteceu a finalização de Ghiggia ou a genialidade de Obdulio Varela no comando do time. A culpa era totalmente do goleiro Barbosa, que, quando morreu, um jornal noticiou da seguinte forma:”Barbosa morre pela segunda vez”.
A torcida tenta desesperadamente achar o Barbosa do Vila Nova. É cômodo pensar que a razão do fracasso é sempre externo a nós, que ele só existe por um mero acaso do destino, uma adesão involuntária ao azar. Mas a realidade é que cada jogo o Vila perdeu por motivos específicos e por falhas dentro de campo que se devem a limitações técnicas. Não é esquema de corrupção de diretoria, é futebol jogado mal dentro de campo. Não é burrice do Hemerson Maria, é futebol mal jogado.
Aliás, Maria é o Barbosa da vez para a maioria dos torcedores. Muito me espanta na fé cega destes, que acreditam em um treinador e um centro-avante excelentes disponíveis no mercado a um preço baixo, só esperando o convite do Vila Nova. Atacante talvez tenha, mas treinador com certeza não. Qual seus erros? Escalar jogadores ruins? O que os jogadores sugeridos para substituir fizeram? Antes, o Vila empatava em casa e ganhava todos os jogos fora. A pressão da torcida suscitou mudanças que culminaram em um time que não ganha nenhum jogo fora e segue sem ganhar em casa (salvo contra o São Bento). O time armado é moderno, adequado ao futebol atual: sem medo de se defender, todos exercem função tática. Qual derrota do Vila se deve a falhas estratégicas? Aliás, o oposto: da para apontar que a maioria veio de falhas que ocorreram após alterações pedidas pela torcida. Contra o Avaí, Mateus Anderson saiu dando lugar para Elias, que marca mal. Do seu lado, o Avaí fez a jogada do escanteio de onde saiu o gol.
Se for para eleger vilões, que a torcida coloque a mão na consciência também. É comum no estádio cenas lamentáveis, de pessoas que provavelmente odeiam futebol. Por exemplo, frequentemente um lateral recebe a bola , é marcado e então recua a bola para manter a posse. Diante disso, a torcida vaia, pois prefere que ele faça uma ligação direta que funciona 0,1% das vezes. Quando Pasinato vai bater um tiro de meta, a torcida vaia por querer que seja uma saída rápida, prefere levar um gol caso o adversário adiante a marcação do que o goleiro dar um chutão, sendo que imploram para todos no meio de campo fazer isso.