Do êxtase à decepção: o minuto 47 para o Fortaleza

Em 2015, o Leão se sagrou campeão cearense aos 47 minutos. Mas cinco anos mais tarde, a sorte não foi a mesma diante do Independiente na Sul-Americana

A história do minuto 47 para o Fortaleza é de alegria e tristeza. Para contar essa história, temos de voltar até o ano de 2007, quando o Leão começou uma sequência que terminaria no tetracampeonato cearense.

O ano era 2007 e o Fortaleza iniciou uma grande hegemonia que durou quatro anos no Ceará. O tricolor foi campeão cearense em 2007, 2008, 2009 e 2010. Sendo assim, o seu primeiro tetracampeonato estadual seguido. O outro clube a conseguir esse feito era o Ceará, que tem três vezes o tetracampeonato (o único pentacampeão no estado).

Tetracampeonato do Ceará

A sequência vitoriosa acabou em 2011. Nesse ano, o Ceará ganhou os dois turnos do Estadual e nem precisou jogar a final. Na classificação geral, o Fortaleza ficou em terceiro e o Guarani de Juazeiro foi o vice-campeão. Ali, começava mais uma sequência de quatro títulos seguidos no Estado do Ceará.

No ano de 2012, Ceará e Fortaleza voltaram a ser protagonistas juntos. O alvinegro fez a melhor campanha na primeira fase e isso foi fundamental para ser campeão diante do rival. Nos dois jogos da decisão, empates. Na ida, 0 a 0 e na volta 1 a 1. Assim, Ceará bicampeão.

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O elenco campeão (Reprodução/Times Campeões)

O ano de 2013 foi de tricampeonato para o Ceará e para o Fortaleza, um mísero quinto lugar no Estadual. O Vozão ganhou seu título sobre o Guarany de Sobral usando o critério de melhor campanha como desempate. Na final, dois empates em 1 a 1 e 42° Estadual para o alvinegro.

Em 2014, o Ceará conquistou mais um Cearense ao empatar os jogos finais contra o Fortaleza. Era a última vez que um time do Ceará conseguia um tetracampeonato consecutivo. E é aqui que começa a história do minuto 47.

Minuto 47: Cearense de 2015

O Campeonato Cearense de 2015 é um dos fatos centrais desta história. O Ceará teve o gostinho do pentacampeonato seguido até o último instante. Foi ali que surgiu minuto 47 que lembra glória para tricolores e desgraça para alvinegros. Antes das finais, o Vozão fez uma campanha melhor que a do Leão. Assim, tinha vantagens de mando e de empates para as decisões. Porém, dessa vez, não adiantou muito.

O primeiro jogo da final foi no Castelão e quem saiu vencedor foi o Fortaleza por 2 a 1. Aos 15 minutos da primeira etapa, Genilson fez o 1 a 0 e aos 37, Everton ampliou para o Leão. Antes do fim da primeira etapa, Magno Alves descontou e deu números finais a partida. Assim, o empate no jogo de volta era do Fortaleza e quem ganhasse ficaria com o título.

A volta também foi no Castelão lotado, metade tricolor e metade alvinegro. O jogo se desenhou dramático do início ao fim. Para aumentar o placar agregado, Daniel Sobralense abriu o placar para o Fortaleza aos 32 do primeiro tempo. O jogo ficou lá e cá a partir disso. Ceará precisando da virada e o Fortaleza segurando.

O segundo tempo seguiu o mesmo roteiro. Mas tudo pareceu desandar quando Ullian Correia foi expulso e deixou o Ceará com dez jogadores. No entanto, o time conseguiu virar. Em uma saída de bola errada, aos 36, Ricardinho apanhou a bola, chutou do meio da rua e Deola aceitou. 1 a 1.

Mesmo com um jogador a menos, o Ceará tinha de seguir no ataque. E assim fez o time de Silas Pereira. O drama seguiu até o último instante. Aos 45 minutos, cruzamento da direita e Assisinho fez o gol que parecia ser o do título. Metade da Arena Castelão ficou em êxtase e a outra metade começava a chorar.

As lágrimas de tristeza tornaram-se de alegria dois minutos mais tarde. Após cruzamento para área, Tinga cabeceou para o meio e Cassiano, iluminado Cassiano, empurrou para as redes para a alegria tricolor e desespero alvinegro. Eis aí, o gol do título. Fim de jogo: Ceará 2-2 Fortaleza. Leão campeão novamente e quebrando a sequência do Vozão.

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A festa foi tricolor no Cearense de 2015 (Reprodução/YouTube)

Minuto 47: Sul-Americana 2020

A provocação contra os torcedores do Ceará por parte dos tricolores durou cerca de cinco anos. Até cerveja o minuto 47 virou. Mas o Fortaleza caiu justamente no minuto 47 para o Rey de Copas, Independiente, em sua primeira noite internacional no Castelão.

É certo que era outra situação: o Leão está em outro patamar se comparamos com o de cinco anos atrás. Com Rogério Ceni, a equipe ganhou a Série B no centenário e a Copa do Nordeste em 2019. Além disso foi para a Sul-Americana. O azar foi pegar o time mais copeiro da América.

Tudo começa em Avellaneda, cidade da Província de Buenos Aires, Argentina, no Estádio Libertadores de América. Lá, o time de Ceni jogou muito bem, mas por incompetência ou azar, perdeu o jogo por 1 a 0, gol de Leandro Fernández. Vitória simples e não tão difícil de reverter no Castelão lotado.

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Comemoração de Fernández no jogo de ida (Reprodução/Jornal do Porto)

O jogo de volta foi outro com superioridade brasileira. O time se impôs a partida inteira, menos nos minutos finais quando defender era o único objetivo. O cenário se desenhava para uma noite histórica e realmente foi. O mosaico antes da bola rolar que dizia “pra cima, Leão” rendeu elogios até na Argentina.

Nos primeiros 45 minutos, domínio total e gol de pênalti aos 27. Osvaldo foi derrubado na área e Juninho cobrou no canto para empatar no placar agregado. O embate seguiu com algumas chances perdidas do Leão. Chances essas que fizeram muita falta.

No segundo tempo, Rogério Ceni mexeu e Marlon entrou. O primeiro chute dele foi gol. Seria o gol da queda do gigante argentino e da primeira glória americana do Fortaleza, mas não foi. Ainda havia tempo por jogar.

Após o gol, a aflição e ansiedade foram aumentando. Tínhamos um Independiente tentando um gol para avançar e o Fortaleza se defendendo. Porém, mesmo jogando melhor que o Rojo, a camisa pesou aos 47 da etapa final. O CAI roubou a bola e partiu pela direita, Bustos foi à linha de fundo e chutou quase sem ângulo. A bola desviou em Bruno Melo e entrou. Era o gol da eliminação e do silêncio.

Foto de capa: Reprodução/Lance